sábado, 28 de janeiro de 2012

GUARAGI: história e política atual

Guaragi, a Vila, tem rica e honrosa história, desconhecida de seus atuais moradores, consequência da escalada de alienação a que, diariamente, nosso povo, especialmente os adolescentes são submetidos, dado o grau de desesperança que a ineficiente classe política fomenta. De município autônomo de Entre Rios, distrito de Palmeira a esquecida unidade territorial de Ponta Grossa, a vila tem currículo capaz de constar figuras da cultura nacional à figuras mitológicas que pesquisados com rigor, subsidiariam monografias no âmbito da história cultural e biográfica. De Ari Fontoura, Marianinho, Maíco, Xica do Santo, Estevão Woyciechosvski, Nho Bita, Seu Orestes, Jair Silva – juiz de paz, Caminho Grande, Tafona do Durvá, Delegacia Velha – depois moradia e igreja evangélica, posto de correios do Velho Aquiles, Coletoria Estadual, Delegado Maneco da Ximbica, Clube Velho, Coreto e a instituição mais importante da Vila, o Grupo Escolar Dr. Munhoz da Rocha. Pelas estradas empoeiradas de Guaragi transitaram famosos caminhões da Alfa Romeu e os temíveis andarilhos, com saco nas costas, pedindo água e comida nas casas. Guaragi resulta do esforço isolado e destemido de um povo ecletico, imigrantes poloneses, italianos, russos e gaúchos desertores. Politicamente, tímido e reservado, o povo guaragiense, em velhos tempos foi ardoroso varguista, embora a ditadura militar tenha aplicado trágico e destrutivo golpe na juventude do distrito. Mesmo assim, marcou fase e deu resultado o trabalho educativo feito em épocas de arbitrio, por professores conscientes e valorosos como Lúcia Schafranski Werner, Roseli Belz, Marize Santos, Anna Celusniak Woyciechosvski, Evani Mendes Machado, Elza Mendes, Nadir de Mattos Cardoso e a professora Marlene. O acesso dos populares ao ensino fundamental e médio ali, nasceu do coração apaixonado pela educação de Romeu de Almeida Ribas e Geny de Souza Ribas, que providenciaram condução para transportar a mocidade até os Colégios de Ponta Grossa, também à dedicação de Lúcia Werner e Roseli Belz, protagonistas da implantação do ensino ginasial.

A modernização e urbanização do modo de produção capitalista implantada pelo regime fascista de 1964 e aplicada em Ponta Grossa na gestão Cyro Martins e Luiz Gonzaga Pinto, retirou a juventude do distrito para a vida moderna da cidade e os laços culturais, a identidade com o berço sagrado de nascimento foi se perdendo. Atualmente Guaragi é um apêndice esquecido, não parte do programa administrativo da Prefeitura, relegado pelas classes dominantes no poder, que da população querem apenas o voto. A riqueza material produzida na Vila não permanece em benefício dos habitantes, se perde no desperdício da classe dominante do centro e nos gastos desnecessários dos políticos e poderes instituidos. Guaragi já deu a sociedade brasileira bons frutos, gerentes de banco, políticos, professores dedicados, guarda presidencial, pensadores, educadores mas, infelizmente, não teve político a altura de suas necessidades e merecimentos, comprometidos com políticas progressistas, associadas as classes necessitadas da nação brasileira. O distrito de Guaragi não tem representação política decente, prática e efetiva. Está abandonado à violência, aos absurdos desvios de ordem familiar, a condição da infância ali é perigosa, preocupante e clama atenção das autoridades constituidas. A desescolarização atinge parcela significativa da juventude o que implica em descaminhos dos vícios, drogas e desrespeito ao patrimônio público.

Responsabilidade pedagógica na escola e educação

Mário André Machado Oliveira

Está em nossa essência a necessidade de aprender. Por isso nossa visão não deve ser limitada sobre o ato de educar nem transmitir o conhecimento atrofiadamente. São evidentes nossas dificuldades de verbalizar o conteúdo escolar. É a falta de praticidade, correspondência à realidade social. A bibliografia sobre Educação valoriza o cotidiano escolar, clareza idéias , concientização e aprimoração na aprendizagem. A escola apresenta tenebroso quadro cultural, processo degradante , ridículo e surreal. O enredo literário dista dos reais fatos.

Impressiona a contradição filosofia da educação e administração escolar, antagonismo teoria-pratica pedagógica. Principia-se pela batalha inútil da titulação. Bachareis discriminando tecnólogos, estes recusam licenciados. Não há melhores e piores, mas funções insubstituíveis , uns produtores, gestores, outros transmissores do conhecimento. Também a disputa Ciências humanas - Ciências naturais. Para uns o homem é o sujeito ativo que transforma a vida, para os outros, os números é que são o sujeito. Ambos ignoram a dinâmica e mútua influencia. Transformamos e somos transformados simultaneamente. As coisas se interligam, lógica, natural e em constante mudança. A educação incluiu-se nesse processo.

Essa primordial batalha no ambiente escolar é atribuição de cada integrante do convívio escolar, embora até aqui, agentes e gestores tenham se deixado dominar pelo temor de romper com paradigmas e dogmas entralaçados nos trabalhos. Incompreensível que o administrador escolar, líder educacional, deixe de influenciar pedagogicamente à sua escola e caia prisioneira na burocracia desviando da essência educacional. Os coordenadores pedagógicos devem cumprir sua função com propriedade, clara consciência das atribuições sem passividade e apatia diante dos desafios educacionais. A Didática é imprescindível ao educador porque vislumbra a criatividade, problematização conceitual, constribuindo para práticas pedagógicas flexíveis, agradáveis e dinâmicas.

O aluno, igualmente, é agente significativo. Deve compreender o seu potencial de produzir idéias, edificar um aprendizado contínuo, perseguindo sua própria autonomia intelectual. Equivocadamente relegamos nesse vital processo educativo, os servidores gerais de uma escola. Como contextualizá-los? Suas atribuições estão além da mera manutenção física ou burocrática do ambiente, pois também educam, transmitem cultura e aprendizado.

Não é agora que se tem questionamentos escola e a educação. Incontáveis reflexões foram elaboradas no século e ainda estamos impotentes para revolucionar o meio pedagógico, transformá-lo num sistema eficiente, produtivo, coerente, dinâmico, justo e digno. O próprio sistema se permite corromper pela burocracia, conformismo existencial, acomodação ao arcaico modo de raciocinar, pois ao invés de senhores da tecnologia nos tornamos reflexo, seus marionetes. Assumamos nossa tarefa como agentes e gestores conscientes da educação, capazes de mudar circunstâncias, não como robôs que não utilizam o lubricanta da consciência que da vida molar à revolução pedagógica .

Reconstruamos, nas esferas da educação, uma sociedade não apenas com acúmulo de informações e aprendizado, mas uma geração educadora correspondente aos tempos de progresso, na lista dos quase desenvolvidos. A educação transforma o mundo, mas o homem quando se educa, no mundo algo renasce a cada instante, diria Paulo Freire e Álvaro Vieira Pinto.

Guarda Municipal é polícia?

Merece atenção o que escreveu o leitor Alécio Silva sobre a Guarda Municipal. Guarda e Autarquia são a mesma coisa, tanto que o homem que sempre costuma responder ao caos em Ponta Grossa a frase "está em estudo" é o presidente de ambas. Em hipótese alguma os guardas municipais tem poder de polícia, embora folcloricamente assim se sintam e se comportem. O número de soldados e viaturas dispostas na área de Ponta Grossa são suficientes para cuidar do município. O trabalho da polícia seria menor se as autoridades diminuissem o número de cargos comissionados na Prefeitura e na Câmara Municipal, não aumentassem as vantagens de deputados estaduais, direcionando este dinheiro elevado para programas de educação, lazer e saúde, o que os idiotas denominariam "o populismo".
(Sobre carta do leitor no Jornal da Manhã de 28/01/2012)

FUNEPO-TV EDUCATIVA e o JB Urgente

Todas as manifestações de solidariedade a João Barbiero diante da retirada do seu programa do ar não contem nenhuma justificativa sociológica, não discutem sobre os bastidores da confecção de um programa de rádio ou televisão, nada sobre ideologia ou teoria da comunicação. O que significa isto? A análise que os pontagrossenses ainda persistem fazendo é através do senso comum, do achismo, das emoções, o que torna a situação pior: nosso nível de formação escolar está estacionado. Talvez simpatias pessoais pelo carisma do apresentador impeça muita gente inteligente de ser autêntica e honrar uma análise séria e sincera.
Considero João Barbiero o melhor comunicador de nosso município, supera Jocelito Canto pela qualidade da linguagem utilizada, pelo vocabulário rico e o excelente raciocínio e conteúdo cultural que assiste ao apresentador. É superior a Rogério Sermann que de mérito tem apenas a empostação de voz, mas é um homem portador de uma pobreza cultural e escolar incomum. Como Nilson de Oliveira é um cadáver não enterrado da comunicação, não vale a comparação.
Mas discordo do programa JB Urgente na TV Educativa, do estilo e do conteúdo que pauta o programa naquela emissora e discordo do vídeo distribuido pelo Barbiero, onde o apresentador se vitimiza e recusa uma análise profunda do serviço ao qual está subordinado com aquela apresentação.
Em contrapartida, João Barbieiro seria minha terceira opção para Prefeito em Ponta Grossa. Primeiro, eu votaria no Dr. Sérgio Luiz Gadini, numa segunda possibilidade, no Deputado Péricles de Mello (que espero tenha tido vergonha e não recebido os volumosos e indevidos R$ 110 mil dados pelo Rossonismo farisaico do DEMO) e posteriormente em JB. Por que?
Não me restam dúvidas de que Barbiero é o único homem lúcido que compõem o quadro do Governo Wosgrau, composto por vagabundos políticos do PTN, PTistas gananciosos e os caducos da velha guarda conservadora aposentada que circulam nos banquinhos da Praça do Wosgrau. Barbiero alia sua juventude e inteligência e se esforça por imprimir uma feição moderna, equilibrada, aberta ao velho governo reacionário da trupe wosgrana, não medindo esforços para fazer com esta se incline pelo bom senso e para obter vantagens históricas do momento e que oportunizem o progresso da cidade. As provas disto é a forma como, solitário, mas empenhado, faz a ponte entre o Governo Federal, Casa Civil e Ponta Grossa, não fazendo que suas convicções pessoais se sobreponham ao interesse da cidade. Dito isto, não me recuso a negar a insegurança ideológica de Barbiero.
Mas que problemas vejo no JB Urgente na Educativa. Todos. A começar pelo nome. Numa TV pública, um programa que sugere culto a personalidade. Um programa que tem conteúdo "à la Datena" ou a "la Gugu" e nada de educativo. Bom para TVs do estilo entretenimento. Penso que ao invés de uma injustificada revolta, João Barbieiro formatasse para a TV Educativa um programa de debates políticos, econômicos, sociais e emprestasse todo seu vigor e amadurecimento político (articulador) nessa empresa. Seria bom para o povo.
http://www.youtube.com/watch?v=oKx8W7xQZjU&feature=share

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Álvaro Vieira Pinto: depoimento do seu irmão Ernani Vieira Pinto




Itacuruçá, 3.4.92



Caro Sr. Acir



Em resposta a sua carta de 26 de março último, tenho a informar que recebendo o pedido do Professor Jefferson, imediatamente mandei uma foto do Álvaro e esposa, na Yoguslávia, pois não temos nenhuma que esteja só, e junto um artigo publicado no “Jornal do Brasil”.

Quanto ao questionário pedido de ordem biográfica, posso informar:

data de nascimento: 11-11-909

data de casamento: 12.6.964

data de conclusão do curso secundário – naquele tempo, pelos anos de 1925 ou 26, para se concluir os estudos iniciais, eram chamados “cursos preparatórios” em que o aluno para ter um diploma, deveria fazer exame das seguintes matérias: português, inglez, francez, e latim, aritmética, álgebra, geometria, trigonometria, - história universal, história natural, físico-química, história do Brasil.

O aluno como em todos podiam fazer num ano qualquer quantidade dessas matérias, bastando requerer no dim do ano, que desejava prestar tais e tais exames, só que isto era feito perante uma banca examinadora de alto nível, só passando quem realmente soubesse.

Assim tendo o certificado de todas essas matérias, o aluno podia requer o ingresso numa faculdade.

Esses preparatórios Álvaro os fez no Colégio S. Inácio, dos padres jesuitas no Rio de Janeiro, onde estudamos.

Data de partida para Yugoslávia – outubro de 1964

Data de partida para Chile – 1986

Data de retorno ao Brasil – 8-9-68

Ano de conclusão do curso de Medicina – 1932

Ano do início da pesquisa sobre câncer – 1932

Quanto as obras não publicadas nada sei a respeito, nem possuo outros artigos sobre Álvaro.

Quanto a pessoas que podem informar, tem o Prof. Darcy Ribeiro e o Dr. Francisco, médico de uma Casa de Saúde S. Lucas, que vou se faço contato a respeito e lhe mandarei o resultado.

Na próxima semana devo falar com nossa sobrinha, Mariza Urban, jornalista, que pode talvez me informar alguma novidade, por estar mais em contato com a esposa de Álvaro.

Em conversa com minha irmã Laura, hoje com 81 anos, me esclareceu que quando terminou a última grande guerra, em 1946, Álvaro foi convidado pelo Governo da França, e foi ser professor em Paris, na Sorbone o que foi aceito, sendo assim o primeiro brasileiro, honrado com esse convite.

Quanto ao exílio na Yugoslávia, foi convidado para ser professor na Faculdade de Split, uma praia do Adriático.

No Chile foi professor no Colégio dos Padres Jesuitas, trabalhando na ONU como tradutor de línguas.

Agora, meu caro Sr. Acir, eu que passei a vida tomando depoimentos no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, e agora aos 80 anos, vou prestar o meu:

...... Disse que:

eram 4 irmãos, sendo 3 homens e uma mulher; que só restam Ernani e Laura, que Álvaro desd pequeno tinha paixão pelos estudos, tanto que com 15 anos de idade, fez um laboratório de química dentro do quarto nos fundos de nosso terreno no Rio, e lá fazia reações químicas, com fumaças, que amedrontavam a família toda; que nossa mãe Arminda foi atacada pelo terrível mal do câncer, e Álvaro passou um ano ao lado de sua cama e quando ela faleceu, ele passou a pesquisar a origem da doença; que lembr-me que ele dizia que o câncer não é transmissível, nem hereditário; que quanto a vida dele no exílio, pouco eu sabia, pois passávamos muitos meses sem nos corresponder, tal a vida das grandes cidades, onde as pessoas pouco se visitam, e tão diferente do interior que tenho grandes lembranças de Ponta Grossa, onde estive várias vezes, bem como em Castro, Jaguariahyva e Tibagi, este último uma autêntica cidade do cinema americano, onde era extraído ouro e diamantes, porém isto já se vão 65 anos: que de Ponta Grossa, nosso pae, Carlos, era comerciante de madeiras e tinha aí nessa cidade um sócio de nome Mário Guimarães; que Mário Guimário Guimarães tinha dois filhos de nome Theodoro e Fausto, os quais vieram para o Rio de Janeiro, e moraram em nossa casa vários anos até se formarem, sendo um em Direito e outro na carreira militar até o posto de General; que também veio um rapaz do nome Heraldo Gomes, cujo pai era tabelião em Ponta Grossa; que estas as lembranças de uma vida passada e que parece que foi hontem.

Agora meu caro Sr. Acir me despeço, aguardando uma visita a cidade de Itacuruçá, no Estado do Rio de Janeiro, situada a beira mar, destante 2 horas do Rio, e com um movimento diário de 300 a 400 turistas por dia e onde apesar da minha idade dou assistência no combate a criminalidade, que não tem fim, e é o meu gosto no fim da vida que se aproxima.

Um grande abraço ao Prof. Jefferson e certo de que se tiver alguma novidade lhe enviarei.

Do amigo,

Ernani

(PALAVRAS: ISEB, Paulo Freire, Álvaro Vieira Pinto, Ponta Grossa, Tibagi, história de Ponta Grossa, História da Educação, Mário Guimarães, Fausto Guimarães, Theodoro Guimarães)