Em 1992 Ponta Grossa teve quatro candidatos disputando a Prefeitura. Nesse cenário político, representaram as forças tradicionais, conservadoras, defensoras dos senhores de terra e do empresariado, Adail Inglês, Djalma de Almeida Cesar e Paulo Cunha Nascimento. Não se deve estabelecer diferenças ideológicas entre eles, representavam mínimas e insignificantes fracções da camada social dominante. A candidatura de oposição a esse projeto continuista, reprodutivista, autêntica, estava encarnada na pessoa e na participação do Padre Roque e do líder comunitário, Giba. A questão maior, o problema posto, era de que o estabelecimento dessa candidatura esbarrava na forte estrutura financeira, no domínio cultural, no forte e resistente arsenal midiático que dispunham as forças do atraso e não apenas nisso. Havia sintomática resistência dentro do próprio Partido dos Trabalhadores, que capitaneava o conjunto das forças progressistas. Um grupo simpático a Péricles de Mello não emprestava apoio e empenho à divulgação. Questiúnculas de pequenez moral, mas que fortaleciam a situação, além da ciumeira interna e medo externo, que sempre seguiu a nossa história, a participação do povo no poder.
A luta ideológica era notável e acirrada. A nível nacional entráramos, a pouco tempo, na fase adentráramos ao universo conhecido como neoliberalismo. Jornais e emissoras de rádio e televisão saudavam a era Collor, o fim do socialismo e das forças trabalhistas no mundo inteiro. Substituindo Fernando Collor de Mello, Itamar Franco chegou a surpreender a nação, adotando políticas nacionalistas em alguns aspectos. A reação procurou motivo para a ridicularização e crítica apoiando-se em seu estilo físico. O nosso entusiasmo seguiu no governo de Fernando Henrique Cardoso.
Em Ponta Grossa os debates políticos foram acirrados. Parcela da juventude encampou, orientada pela liderança do DCE, o movimento para a derrubada de Collor de Mello. A universidade, até então imóvel e aprisionado no conservadorismo, dominada pela geração antiga e simpática ao regime ditatorial, pelas forças das circunstâncias, se tornara o centro capitaneador dos debates e em seus cursos se incluiam esses problemas e temas pautados pela luta política e social, como parte dos projetos de pesquisa a extensão. Os cursos retomava, com vigor, a discussão do pensamento de Paulo Freire e do ISEB, de Nelson Werneck Sodré e Álvaro Vieira Pinto, Vigotsky, Dermeval Saviani, Moacir Gadotti e Vanilda Paiva. Paulo Freire tinha a preponderância. Jornalismo, História, Pedagogia e Serviço Social se engajaram, foram às vilas longínquas do centro, levar projetos de alfabetização e cidadania à luz do método Paulo Freire. Fica no registro o movimento de alfabetização Reconstruindo o mundo, coordenado por Carmencita de Holleben Mello Ditzel, Jefferson Mainardes, Roque Zimmerman, Jussara Ayres Bourguinon, Zenilda Batista Bruginski e Vanessa Sabóia Zapia, alguns de relâmpaga participação. Até um projeto com meninos de rua foi desenvolvido, tendo a participação de Marilda Wosnika, não dos menores papéis. Este último funcionava nas dependências da Universidade e representava o idealismo de Carmencita. O marxismo alcançava estatus nas concepções filosóficas de diversas graduações e isso incomodava os professores reacionários e a imprensa, sempre conservadora.
Esse ano (1992) foi o mais rico em debate políticos e sociais. Nos parecia que a cultura ressurgira nos Campos Gerais. Em suas reuniões, o PT, cheio da presença de populares, líderes de bairros, dedicava espaços longos à discussão sobre o socialismo, das posições diferenciadas das tendências em relação ao tema. O PT também reunia pessoas inclinadas a outros partidos de esquerda. Os debates foram para o interior da universidade e nela receberam uma roupagem militante e acadêmica. Formava-se liderança pública. Isso não agradaria o espírito da época.
Em 1996 Jocelito, apoiado por fração das camadas dominantes venceria as eleições. A ofensiva reacionária que não alcançava o coração de uma população sofrida, sem remédios, sem moradia, sem recursos. Esgotaram-se os representantes dessas camadas tradicionais portavam um discurso moralista, distante do povo e pedante. Não foi difícil que povo caísse no colo de Jocelito, cuja ideologia e programa de governo, em nada diferenciava-se da classe dominante, tão somente obrigava o braço habilmente, caridoso com a parcela da população pobre, sem oferecer proposta de cidadania que lhe oportunizasse conscientização e crítica.
Jocelito chamou para si o preconceito e o ódio da classe dominante que levou junto de si todo o puritanismo da esquerda pontagrossense. A luta pessoal contra Jocelito colocou a perder um rico momento de debate de ideias e propostas progressistas.
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